quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma homenagem À Jorge Luiz Borges

Um momento, Café Tortoni em Buenos Aires-(Foto de Célia Augusta)
Hoje é dia de homenagear um poeta que admiro muito: Jorge Luis Borges. Para tal exponho um texto que acho incrível, e, que com certeza o leitor também irá gostar. Jorge era assim, direto, as vezes tristes, as vezes tão fantástico que seus trabalhos têm contribuído para a literatura fantástica. Sua obra é notável, abrange a filosofia, metafísica, a mitologia e a teologia. Foi provocador, é sem dúvida um dos maiores poetas da literatura mundial contemporânea, pois até hoje, sua obra é estudada, admirada e homenageada.Seus textos nos coloca diante de reflexões com relação a fragilidade e as limitações do ser humano, pode-se encontrar presente o nosso próprio destino. Vi-o em forma de estátua em tamanho natural no Café Tortoni, na Av Mayo, em Buenos Aires, e não resisti e toquei sua cabeça, como forma de agradecimento pelos momentos de deleite que sinto ao ler um pouco de sua obra maravilhosa. Nada mais natural do que deixar aqui um pouco do que ele escreveu.
Ao grande Jorge Luis Borges, minha homenagem, no texto Oração, escrito em 1969 por ele, que curto por demais:


"Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.

Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo."

Jorge Luiz Borges

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