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Antes uma escola hoje um arranha céu- Foto de CA
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A Fortaleza de sempre, a cidade
que me recebeu na minha pré-adolescência, e, parafraseando o historiador Girão,
ela embalou os meus sonhos na minha mocidade e ajudou a modelar meus dons da
maturidade, ela hoje está diferente. A cidade da Fortaleza de Nossa Senhora,
que o célebre engenheiro Paulet tão bem arrumou em uma planta como um tabuleiro
de xadrez e que o boticário Ferreira, jamais deixou que a deformasse, sem esquecer-se
disto o arquiteto Herbester nunca deixou de ampliar com um rigor fiel às
antigas linhas.
A Fortaleza que foi uma cidade de
ruas pequenas e pobres, mas que o povo a fez crescer, em meio aos entulhos de
demolidos prédios de outrora. Uma cidade que antes era apenas estacas de uma
fortificação e espelhava-se na “água fresca e doce” do rio Pajeú, que hoje
mutilado e poluído não se cansa de continuar seu caminho para o mar, carregado
de dejetos que lhe são jogados por onde corre, todos os dias. Cidade que
segundo Silva (2002,p.123) explicando Fortaleza, questiona se ela teria surgido
do sertão, do mar, das lagoas, das dunas? Ainda pergunta como se explicar
Fortaleza forte, a Fortaleza do forte ou a Fortaleza frágil de muitos anônimos
e outros tantos conhecidos por todos e que constroem destruindo? Essa cidade
tem seus limites imprecisos, mas, é uma cidade amada, partida, ferida, sofrida,
mas, acima de tudo querida; por mim e pelos que aqui chegam e ficam.
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Entre Varjota e Meireles. Foto de CA
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De um canto a outro, quer seja na
Barra do Ceará, onde teria surgido em meio ao Forte de São Thiago, passando
pela Praia de Iracema, antes bucólica e agora agitada, pela foz do riacho
Maceió, Mucuripe, Varjota, Aldeota, Meireles, Praia do Futuro, Parangaba, Morro
de Santa Teresinha, Messejana, Conjuntos Ceará, Palmeiras com suas palmas, José
Walter, Papicú, Cidade 2000, e por tantos outros bairros, a nossa Fortaleza vive
com uma mescla muitas vezes desordenada
de sotaques, cores, tamanhos, sabores e saberes.
Viva a Fortaleza! Já não tão linda,
já não tão jovem, ela é de toda cor e tamanho, consegue superar suas perdas,
substituindo sua antiga arquitetura horizontal por edifícios com linhas
arrojadas que surgem a fechar a visão de um horizonte nos “verdes mares
bravios”, porém ainda é “desposada do sol”. Sol este que aquece seus moradores
e visitantes misturando-se aos ventos alísios.
Caminhei em dois bairros dessa
cidade, e, fotografando ainda vi um pouco da Fortaleza insinuante de antes, em
meio aos desafios que ela enfrenta todos os s dias. Conversei com pessoas, citadinos
que a amam ou a odeiam, uns não perdem a esperança de viver a Fortaleza sendo
mais bem cuidada, menos violenta, como se estivessem a falar de uma mulher que
antes jovem e guerreira como a Iracema de José de Alencar; hoje alquebrada e
cheia de dores em seu corpo cansado de tentar resistir às agressões sofridas,
não perde as seu encanto.
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Antiga Praça Mathias Beck, na Av Abolição no Meireles. Foto CA
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Penso eu: Há um doce lamento e
muitas expectativas, entre os quais conversei quanto ao futuro de nossa
Fortaleza. Acreditam que é possível essa cidade sob as bênçãos de Nossa Senhora
da Assunção, envelhecer mais dignamente sob os cuidados de jovens que se
reconhecem donos e responsáveis, mesmo ela sendo uma cidade enorme, que
modificada em sua geografia, que alterada em sua malha urbana, espraiou-se,
ampliou seus domínios, mas, ainda emocionará os daqui e os de fora, mesmo que
ela se transmute em seu dia a dia.
Fontes: Textos de Raimundo Girão, Minha cidade
do Oceano Verde, 1975. Fortaleza, Mar e Sertão, de José Borzarcchiello da
Silva, 2002.